quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Meu filho não come! E agora? (Recusa alimentar)


Hoje vou falar sobre um assunto muito comum, com o qual lidei muito na minha atuação como nutricionista escolar. Meu trabalho se estendia desde a Educação Alimentar na forma mais simples, até a supervisão e avaliação do comportamento das crianças e educadores no momento da refeição. Eu avaliava e depois trabalhava isoladamente com os casos mais complicados e isso incluía conversa com os pais para avaliar quais fatores estavam influenciando na recusa alimentar da criança.
Fatores?
Sim, na minha experiência profissional nunca vi uma recusa alimentar injustificada. As causas podem ser psicológicas, fisiológicas, patológicas, comportamentais, ou seja, sempre existe um fator que está desencadeando essa recusa.
É muito fácil dar dicas, dizer aqui pra vocês que alimentos coloridos e montagens de pratos em forma de ursinho, cachorrinho ou seja lá o que for será a solução. Não, não é! Isso conta, mas o que mais conta é saber identificar e lidar com situações e fatores que levam a recusa.
A alimentação da criança pode ser influenciada positivamente ou negativamente pelo contexto familiar onde está incluída. Normalmente essas queixas de recusa alimentar são feitas pelos pais e a faixa etária da criança fica entre 1 e 6 anos. Não estou falando de uma recusa de um alimento específico ou uma recusa eventual, a recusa alimentar é recorrente e pode afetar o desenvolvimento da criança.
O objetivo aqui não é encher os pais de culpa ou faze-los se sentir fracassados, mas sim dar uma perspectiva diferente para se possa fazer uma autoavaliação de forma consciente. Os pais normalmente erram querendo acertar e ninguém precisa ser perfeito para ajudar seu filho, basta reconhecer o problema, se informar e pedir ajuda!
Mas o que afinal posso estar fazendo errado?
Uso da mamadeira ou aleitamento materno em substituição à alimentação sólida
Já é sabida a importância do aleitamento materno, porém algumas mães se atrapalham um pouco quando se trata da quantidade, frequência e horários dessa oferta de leite quando se começa a introdução alimentar. Aos seis meses a criança necessita de outros nutrientes e consequentemente esses nutrientes provém da alimentação sólida que deve ser introduzida gradualmente. Porém, algumas mães se assustam com a recusa alimentar inicial da criança (que é normal nessa fase) e em substituição ofertam o leite, dificultando o aprendizado. Já vi casos de crianças que “sobreviveram” apenas com leite praticamente até um ano de idade, pois os pais não conseguiram fazer a introdução correta.
Histórico de má introdução alimentar
A introdução alimentar tem uma importância imensa no desenvolvimento da criança e uma oferta variada de alimentos pode definir o padrão da alimentação na vida adulta. Uma criança não vai aprender a comer sozinha o que não lhe foi ofertado, portanto a variedade e a introdução de alimentos corretos é essencial.
 Maus hábitos alimentares familiares
 A maior dificuldade na minha opinião, pois muitos pais queixam-se da recusa alimentar dos filhos, mas não dão o exemplo. Cada um tem um gosto, um costume, uma experiência em relação aos alimentos, ter os alimentos em casa à disposição e tentar não influenciar na capacidade de escolha da criança é fundamental. Normalmente numa avaliação completa identifica-se que a família toda deve fazer uma reeducação alimentar para que a criança possa ter a oportunidade de conhecer e aceitar os alimentos. Não utilizar palavras como: “Nojento”, “feio”, “fedorento”, quando falar dos alimentos que não gosta na frente do seu filho é uma forma de dar o direito de escolha para ele decidir se vai ou não gostar desse alimento.
Ausência de rotina
A dificuldade de estabelecer horários e o local onde a criança come são fatores importantes. O ato de sentar à mesa e colocar a criança junto, sem nenhuma distração (televisão e brinquedo), fazendo com que ela concentre-se apenas na alimentação, sentindo e observando as texturas, cores e sabores. Ter hora para brincar, comer, dormir não é sinônimo de “regime militar”, mas sim um treinamento prévio pra vida, pois vivemos sob regras na sociedade. Estabelecer essas regras é fundamental pra que no futuro seu filho não sofra por não entende-las ou não saber nem o que são.
Influência dos pais e familiares (visão distorcida sobre alimentação e problemas pessoais dos pais em relação a alimentação)
Alguns pais projetam nos filhos suas frustrações em relação a alimentação, muitas vezes acabam pressionando, privando, castigando os filhos pelo comportamento alimentar que não corresponde as expectativas deles. Atitudes autoritárias e punitivas só pioram o quadro. Alguns pais também se confundem um pouco quanto a quantidades e a qualidade dos alimentos que a criança deve comer, por conceitos pré-formados ou falta de informação. Para saber isso com exatidão é preciso da ajuda de uma nutricionista que vai avaliar exatamente qual alimentos e quantidades você deve oferecer para seu filho.
Mudanças (adaptação na escolinha) 
É absolutamente normal a criança recusar o alimento frente a uma situação de mudança, que com paciência e determinação pode ser revertida. A adaptação a escola pode demorar um pouco e isso depende também de como os pais lidam com isso, pois a criança sente as inseguranças dos pais e acaba sendo influenciada por elas. O choro e as recusas não vão durar pra sempre nesse caso, eu garanto! Vai chegar o momento que vai ser tão legal frequentar a escola que eles vão pegar a mochila e sair correndo para ver os colegas, sem nem dar tchau pra vocês!
Socialização da criança
Chega uma fase onde a criança passa a ter mais independência, começa a brincar, ficar em pé, correr, se relacionar com amiguinhos e coleguinhas e nessa fase a alimentação pode ficar em segundo plano. Comer passa a não ser a única fonte de prazer e a criança fica tão afoita para fazer essas atividades que acaba por não querer se alimentar. Nesse momento é importante que se estabeleçam horários e rotinas para que a criança veja que pode fazer tudo!
Métodos compensatórios (oferta de alimentos em troca da ingestão de outros)  Chegamos num ponto importante, pois a maioria dos pais que enfrentam a recusa alimentar dos filhos utilizam o método compensatório para tentar fazer com que a criança coma. É importante entender que pelo fato da criança ser pequena ela não está privada da inteligência nem da “malandragem” (que por sinal são incríveis) e sim, elas fazem de tudo pra comer aquilo que elas gostam. Choram, dizem ter dor, se atiram no chão e recusam todo e qualquer alimento sabendo que vão receber em seguida o alimento que elas gostam. Não ceder é importante! Sejam fortes pais! Ter pena não ajuda nem resolve problemas.
Violência doméstica ou instabilidade familiar 
A criança muitas vezes usa a recusa alimentar para se comunicar, pode não dar nenhum sinal, mas na verdade está dizendo: “preciso de ajuda”. Já vi casos como esse, de negligência e instabilidade familiar, que prejudicaram a saúde e desenvolvimento da criança. Brigas, problemas e agressões podem fazer a criança parar de comer. Por pior que seja o problema a família deve resolve-lo sem envolver a criança. Procurar ajuda psicológica é essencial. Devemos estar atentos para isso não só como profissionais mas no dia a dia com as crianças que convivemos.
Lembro que existem muitos outros fatores e que essa postagem não cita patologias, estamos levando em consideração uma criança saudável, sem diagnóstico pregresso patologias associadas a distúrbios alimentares.
Cada caso é um caso e é por isso que nós nutricionistas trabalhamos com o atendimento individualizado, para avaliar todos fatores e daí sim chegar a uma conclusão.
Mas, para ajudar seu filho, primeiro deve-se fazer uma avaliação do que de fato está influenciando nessa recusa e daí partir para a ação.  A ação inclui estabelecer rotinas, mudar a alimentação familiar, oferecer o alimento ou os alimentos recusados mais de 10 vezes com formas de preparo e montagens de prato diferentes, tornar a hora da refeição agradável realizando-a em família, não ceder às chantagens, nem oferecer outros alimentos para substituir o alimento recusado.

Ufa! Mãos à obra pra vocês pais e nós nutricionistas. No futuro eles vão agradecer!
 Carolina Capellari Simon
CRN2 10715

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Ciência da Nutrição - Blog de cara nova, boas vindas!

Resolvi repaginar meu blog, que depois de muito tempo desativado vai ganhar um pouco de vida.
Vou utilizar este espaço para falar sobre assuntos relativos a alimentação infantil, comportamento, educação. Tudo assim, com esse meu jeito peculiar e gaúcho de ser!
Aqui vou dividir minhas experiências com vocês, desmistificar a nutrição infantil e dar dicas, receitas, responder questionamentos! Lembro que consultas pela internet, dietas prontas, avaliação nutricional via internet não serão dadas! Não me peçam para ser antiética please!
A Nutrição hoje está em alta, no bom e no mau sentido, falo no mau sentido pois vemos a cada dia uma blogueira nova com dicas absurdas e "sugestões de cardápio", porém sem formação acadêmica e nenhum embasamento científico. Num mundo onde "qualquer um" pode falar sobre qualquer assunto com pseudoconhecimento de causa, nós nutricionistas temos que lidar com essa concorrência e lutamos bravamente pela Ciência da Nutrição. Mais do que um blog, esse espaço será destinado a postagens e conhecimentos baseados em estudos científicos, não em modismo, tendências e achismos.
Sou Nutricionista graduada pelo Unilasalle em Canoas/RS e atuei em diferentes áreas antes de me encontrar profissionalmente. A área Clínica, a geriátrica e UAN fizeram parte das minhas experiências profissionais. Mas foi na Nutrição Infantil que encontrei meu norte.
Iniciei meu trabalho em uma Escola de Educação Infantil de Canoas e lá posso dizer que desenvolvi um trabalho que me acrescentou como profissional e ser humano. Tive liberdade para realizar um trabalho baseado na Educação Nutricional, englobando pais, professores e toda equipe da escola. Contei com a ajuda e estímulo de pessoas que realmente acreditam na importância da Nutrição!
Trabalhar com crianças é missão difícil, porém extremamente satisfatória. Foi nessa jornada de descobertas que resolvi mergulhar mais a fundo nessa área, fazendo minha especialização em Pediatria Geral no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, lá trabalhei na Emergência Pediátrica e Obstetrícia.
Atualmente vivo em Londres, sou pós-graduanda em Gestão em Saúde Pública e estou mergulhando de cabeça nas experiências vividas aqui. Sei que tenho uma longa jornada pela frente para me estabelecer como nutricionista aqui na terra da rainha, e, com certeza essa jornada será compartilhada com vocês!
Sejam Bem vindos!